O que é e Como Usar Pontos de Vista

Olá escritores!

Falaremos hoje, e no decorrer desses próximos 3 meses, sobre o que é ponto de vista, suas variantes e como usá-las (e quando usá-las).

O ponto de vista de uma história depende muito do estilo e gênero do escritor.

Por exemplo: é dominante ver em livros de românce o ponto de vista em primeira pessoa.

Quando eu comecei a escrever achei que tinha somente primeira e terceira pessoa, mas na verdade existem várias ferramentas e variantes dentro dessas que podemos explorar e usar.

warren-wong-187566-unsplashMas o que defini ponto de vista (PDV)?

Esse pode ser definido de duas formas: (1) o ponto de vista dentro de uma discussão, uma argumentação, ou qualquer tipo de não-ficção que use uma opinião; a forma que você pensa sobre algo; (2) Dentro de uma história, o ponto de vista é a posição que o narrador usa para descrever eventos.

E é a segunda que vamos explorar aqui com vocês.

Por que ponto de vista é tão importante?

Simplesmente por que ela filtra tudo dentro da sua história. Toda escrita tem que vir de um ponto de vista e se não for definida, poderá danificar sua história.

O pior de tudo é que geralmente são erros fáceis de se evitar, especialmente se você as conhece bem. Então vamos, sem mais delongas, às definições:

Ponto de Vista em primeira pessoa

É quando EU sou o personagem e estou contando a história.

O personagem esta dentro da história, relatando suas experiências pessoas a respeito das coisas que estão acontecendo diretamente ao seu redor. Existem 3 técnicas para se escrever em primeira pessoa:

Epistolar

É escrito através de documentos enviados de um para o outro. Geralmente são cartas, mas podem ser páginas de um diário, um artigo de jornal, e algo mais recente pode ser um texto de blog ou email.

A principal função dessa forma de escrita é providenciar ao leitor uma experiência íntima dos sentimentos e pensamentos do personagem.

O tempo usado é no presente. A carta ou documento escrito pelo personagem em questão tem que ser de modo científico ou teórico, mas atrás dessas cartas pode ter uma história, utilizando até outro ponto de vista, da qual nenhum dos personagens nem se quer sabe a respeito.

A técnica pode ser definida como monológica, escrito por uma pessoa para ela mesma, no caso de um diário – Diario de Anne Frank; Dialógica, cartas entre dois personagens – Frankenstein, por Mary Shelley; Ou polylógica, que involvem três ou mais personagens que trocam cartas e dentre outros documentos – Dracula, por Bram Stoker é um classico exemplo.

Reflectivo

Também chamado de retrospectivo, é quando o personagem em primeira pessoa relata algo que ocorreu consigo no passado.

O tempo usado no texto é escrito no passado. Geralmente contado de uma versão mais velha do personagem a alguém mais novo.

Um exemplo ótimo é O Hobbit, quando no começo Bilbo esta escrevendo no livro dizendo que vai contar a historia dele.

Os fatos contados levam a um personagem que é a melhor versão de si mesma devido a esses acontecimentos. Se não feita corretamente pelo narrador pode gerar muita confusão na cabeça do leitor. Escritores também tendem a misturar esta técnica com o imediato (falaremos logo em seguida) e escritores com pouca experiência tendem a usar muitos clichês para apresentar a mudança de tempo e tom usado na história.

Clichês como: o que você não sabia é que, quando eu era… Ou também, essa parte não contei antes, por que é a parte chata da minha história, mas antes era… Então tome cuidado com a forma que vai usar essa ferramenta.

Imediato

Dominante em histórias de YA (young adult) focado nos jovens, que não são tão jovens assim. Com o intuito de mostrar o aqui e agora, imergindo o leitor pra dentro da cabeça do personagem e da história. The Hunger Game é um bom exemplo.

Ponto de vista em segunda pessoa

A história é contada a você, mas colocando VOCÊ como personagem principal.

Não muito comum em livros de ficção, apesar de que existe um bom exemplo chamado de Bright Lights, Big City por Jay McInerney. Escrito todo em segunda pessoa. A única coisa ruim é que não encontrei versão traduzida, se alguem achar me conta onde.

You are in a nightclub talking to a girl with a shaved head. The club is either Heartbreak or Lizard Lounge. All might come clear if you could just slip into the bathroom and do a little more Bolivian Marching Powder.

Tradução: Você esta numa balada falando com uma mulher de cabeça raspada. O clube é de corações quebrados ou um lounge de lagartos. Mas tudo poderá ficar claro se você pudesse somente dar uma corrida no banheiro e fazer mais pó boliviano.

Deu pra perceber como você respira dentro do cenário como o personagem principal da história?

Ponto de vista em terceira pessoa limitada

A história é sobre ELE ou ELA. O narrador esta fora da história relatando as experiências de um personagem, geralmente sendo o protagonista. A terceira pessoa limitada é como se colocassem uma camera sob os obros do personagem contando tudo o que ele vê.

Pense que aqui você é um mero mortal, então você só sabe o que se passa dentro de uma mente e um coração, portanto sua perspectiva é limitada. E você precisa de vários outros personagens dentro dessa perspectiva para criar a situação e história.

Um bom exemplo, Jane Austen e seu livro Pride and Prejudice.

When Jane and Elizabeth were alone, the former, who had been cautious in her praise of Mr. Bingley before, expressed to her sister how very much she admired him. ‘He is just what a young man ought to be,’ said she, ‘sensible, good-humored, lively; and I never saw such happy manners! So much ease, with such perfect good breeding!'”

Tradução: Quando Jane e Elizabeth estabam a sós, a primeira, que já tinha sido cautelosa na exaltação de Mr. Bingley antes, expressou à sua irmã como ela o admirava muito. -Ele é exatamente como um jovem homem deve ser – ela disse – sensível, de bom humor e vivo; e eu nunca vi educação igual! Tão tranquilo, e com dotes para bons filhos!”

Ponto de vista em terceira pessoa, onisciente

O narrador esta fora da história contando sobre ELE ou ELA, porém ele tem acesso total aos pensamentos e experiências de todos os personagens dentro da história. Esse ponto de vista não tem preferência por personagens facilitando também a passagem de informação para o leitor. Por isso que é tão fácil escrever em terceira pessoa onisciente. Pensa assim, você (narrador) é como um Deus da história e soubesse de tudo o que estivesse acontecendo.

Ponto de vista hibrido

Esse ponto de vista é quando o autor mistura dois ou os três pontos de vista dentro de uma mesma história, o que geralmente acontece quando o author quer injetar sua observação e pensamentos pessoais sem necessariamente ser narrador.

Uma forma de se mudar de PDV é utilizando a técnica História em quadros. Que é uma história dentro de uma história, contada pelo personagem principal ou auxiliar. Ele pode contar a história para outros personagens ou sentar e escrever a história com detalhes para um grupo ou o próprio leitor. É uma técnica bem popular na arte de contração de histórias.

Claro que você vai dizer: mas Mellany, isso parece primeira pessoa episolar e reflectivo. Sim e não. Por que uma carta esta no ponto de vista epistolar, porém a transição entre uma história e outra é um enquadro de histórias. A narrativa muda. O tempo muda. O ar muda.

Não só isso. Um momento reflectivo (ou epistolar) pode usar um enquadro de história para contar sua reflexão, mas nem sempre um enquadro de história é uma epístola ou reflexão.

Outra técnica que pode ser usada é flashbacks (ou memórias). Essa é mais complicada de acertar, pois pode gerar leitores entediados e confusos se não feita corretamente. Professores de escrita criativa falam: são muito difíceis para usar, não se preocupe com eles. Mas então, por que é que perderam tempo criando um nome e definição para isso? Por que e pra que usá-lo? E como?

Você pode usar um flashback durante uma cena de ação para mostrar ao leitor uma cena no passado do personagem que conecte com aquele momento, ou que tenha um pedaço de informação que vai os ajudar no desenrolar da história.

Mas por favor! Não comece um flashback com: eu esqueci de te contar isso; ou, não queria te contar sobre esse trecho da minha vida, mas, não sei se a verei novamente… É muito clichê gente! E aí fica chato. (Como leitora, eu pulo essas partes, sério)

Qual é o gênero que você mais gosta de ler e escrever? Deixe um comentário abaixo.

Lição de casa!

Saia da zona de conforto e leia algo diferente! Talvez um dos livros que falei hoje, ou simplesmente algo usando um ponto de vista diferente do qual você escreve.

 

Próximo post!

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Temos quadro novo: resenha do Destino do CEO, por Carol Moura.

Até lá!

Escreva feliz!